ÓRGÃO OFICIAL DO COMITÊ CENTRAL DO PARTIDO COMUNISTA DE CUBA

BastarIa encontrar as palavras precisas, as exatas; aquelas que consigam descrever, sem recortes subjetivos ou excessos, todo o amor e a dor de um povo. Porque os cubanos fomos à Praça por amor a Fidel. E também por dor.

A Praça, na segunda-feira, dia 28, era uma fila longa, interminável, sinuosa. E eram três salas do Memorial José Martí. Era um Fidel vestido de guerrilha, com mochila de campanha e botas para tresandar o tempo. E era algo mais: um olhar pousado no horizonte, que bem poderia ser no futuro.

Bastariam as palavras corretas. Mas o correto, depois de tudo, é quanto digam os que o conhecem e amam. Melhor deixá-los falar.

Pesam seus olhos. Vê-la. Porque a alma se reflete como espelho nesse «Sou Fidel» que colori a bochecha esquerda e o momento, seu adeus, se torna tão íntimo, tão seu, como se ninguém estivesse. Nos lábios um Te amo. E o beijo ao ar. Até ele, que está em pé, com seu uniforme verde-oliva no alto de uma montanha. Perene.

«Desde que a gente vai subindo pela fileira, o peito se afoga e a tristeza é tão grande que dói e sabemos que temos que ser fortes, que a melhor forma que nós, os jovens, temos para homenageá-lo é sendo melhores estudantes, mas como vão me pedir que não chore se é como se tivesse morto meu pai».

Por um segundo, María Carla Ávila, da Universidade das Ciências Informáticas, cala. Necessita roubar umas baforadas ao ar, porque então as palavras não saem.

Com seu pequeno Álvaro, de meses, Geidy Padrón Blanco chega à Praça. E nos conta que Alejandro, seu outro filho, de quatro anos, foi na segunda-feira à creche vestido de preto, com as dragonas do Comandante que sua avó lhe pintou.

«Qualquer cubano que se sinta como tal deveria estar aqui». Assim pensa e divulga esta jovem, que trabalha em um centro de pesquisa e desenvolvimento das Forças Armadas Revolucionárias. «Tive a oportunidade de conversar com Fidel, de tocá-lo. Foi no Coliseu da Cidade Esportiva, durante a recepção dos beisebolistas do Primeiro Clássico Mundial. Tínhamos feito uma fileira e ele saiu justo por onde eu estava. Ainda lembro aquela mão suave».

Para ela, Fidel foi o melhor expoente de cada setor da sociedade cubana. «Ensinou-nos a pensar. É a vez da juventude de continuar seu legado, fazer do cotidiano seu conceito de Revolução. E se me perguntassem como gostaria que fossem meus filhos, diria como Fidel».

«Falar do Comandante sempre vai ser uma lembrança da vida». Essa é a certeza de Andrés Gómez, professor de profissão e jornalista.

«Inclusive, neste dia, quando a dor marcha também pela Praça, tem que estar alegre porque tivemos um Fidel; pela oportunidade de coincidir na história, porque nos sabemos que somos filhos de sua sabedoria».

«E quando suas cinzas partirem para Santiago, como se percorresse de novo a Caravana da Liberdade, sua gente estará aí, como esteve em 1º de janeiro de 1959. Não tem que dizer muito, apenas que é o maior cubano da história. E não me digam que tem que compará-lo com Martí; não é um contra o outro, mas as duas partes de uma grandeza».

Gaspar Loré, com todas suas medalhas e a dor nas costas, também foi dar o último tributo a quem considera seu maior exemplo. «Perdemos o maior de Cuba, mas nos restam seus ensinamentos e a obrigação de sermos dignos defensores de quanto fez por Cuba. Fiz parte de sua coluna, estive na Baía dos Porcos e não esqueço sua entrega e sua coragem».

Gloria La Riva, política estadunidense vinculada ao Partido Socialismo e Libertação e coordenadora do Comitê de Solidariedade com Cuba e a Venezuela, nos Estados Unidos, presenteia-nos um pedacinho de seu Fidel, desse que vive nela.

«São muitas as histórias, vê-lo era se surpreender. Uma vez esteve falando mais de cinco horas a fio, sem parar; nem sequer para beber água e eu dizia: ‘Mas, como ele faz isso? Por acaso é um ser sobrenatural?’ Realmente era».

«Lembro que em 1993, nos anos mais difíceis do período especial, deu um discurso memorável, foi em 26 de julho, lá em Santiago de Cuba. Surpreendeu-me como este homem, em um momento tão crítico, estava aí, em pé, explicando a seu povo as mudanças que o país experimentaria. Mas que, apesar de tudo, a Revolução não morreria. Só Fidel podia fazer isso… Era muito criativo, muito engenhoso, um homem que levanta multidões. E esse é o Fidel que me levo, o que quero lembrar».

Talvez mesmo que Yilian Contis quis se despedir junto a seus filhos; Damián, de sete anos e Camilo, de três. Amilkar, seu esposo, trazia uma bandeira, «porque o Comandante é também nossa bandeira, nosso símbolo».

Eles pensam que «vir com as crianças foi a melhor ideia, porque embora não saibam ainda o significado deste momento difícil, mais adiante entenderão e se sentirão orgulhosos por tê-lo vivido».

E Damián, um pouco tímido, presenteia-nos o poema recém-feito ao Guerrilheiro da Serra:

Fidel sou eu, que sou pioneiro e estudo para ser o futuro.

Fidel é o médico que nos atende quando nos sentimos mal.

Fidel é o mestre que nos ensina dia a dia.

Fidel é a liberdade que gozamos em nosso país.

A Fidel, nosso Comandante, sempre o levo em meu coração.

Até a Vitória sempre, Comandante.

Por momentos segura a mão dela. Por momentos, carrega-a em braços. Assim leva Katina Leyva sua pequena Aitana de dois anos. Foram horas. De sol, de cansaço, de emoção. «A gente nunca espera a morte e muito menos quando chega para um homem como Fidel, que para nós era imortal. E ainda é. Está no olhar de todas as pessoas que passaram por aqui, que vieram para lhe dar o amor e o respeito que merece um pai».

«Por isso trouxe minha filha, confessa, porque quando for grande, vou falar-lhe deste dia e lhe direi que ela esteve no enterro de seu avô, que foi um homem que sempre amou muito as crianças».

«Estar aqui é uma grande responsabilidade como revolucionário, como comunista e como ser humano. Hoje sentimos uma dor infinita e se algo pudesse nos consolar é a certeza de que cada cubano leva em si um Comandante-em-chefe, ao qual deve dar vida. Enquanto existir um ser humano digno existirá Fidel», afirma Carlos Alberto Martínez Blanco, diretor do Hospital Universitário General Calixto García.

«Dele aprendemos a lealdade ao povo, a fé na vitória, ainda nos piores momentos. É a pessoa mais extraordinária que existiu na terra. Fidel nos fez dignos, ensinou seu espírito de luta. E seu legado devemos defendê-lo».

E se alguém encontrou em Fidel motivo suficiente de inspiração, esse é Alexis Leiva (Kcho). «Meu cotidiano está cheio de sua energia e sua luz: quando desenho, faço uma escultura, construo uma casa… A mensagem mais poderosa que minha Pátria possui é sua obra e seus ensinamentos. Foi o cubano maior».

«Desde que escutamos a notícia tem sido a continuidade de um dia triste. Ao menos assim sinto isso». Para Alexander Abreu, diretor da orquestra Habana D’ Primera, Fidel era tão grande que não só seu povo chora, de qualquer parte do mundo chegam mostras de respeito.

«Agora mesmo lembro meu pai, que me dizia que Cuba antes de 1959 era de ricos e brancos e que Fidel mudou isso. Contarei essa história, que nos tornamos homens de bem devido ao Comandante».