«TENHO a impressão de que a primeira vez que vi Fidel foi na Praça Cadenas, da Universidade de Havana, quando eu estudava para ser professora de Física, no ano 1967. Ele ia de vez em quando à Universidade, para falar com os estudantes e uma noite eu estive presente», lembra o trovador Vicente Feliú ao compartilhar com o Granma lembranças que conserva da figura de Fidel.
«Depois o vi muitas vezes, quando começou o movimento da Nova Trova, que sempre teve seu apoio incondicional e da Haydée. Não se fala muito disso, mas Fidel sempre apoiou este movimento e os trovadores que o impulsionávamos».
«Um dia cantei junto a meu irmão Santiago Feliú em um Congresso Internacional de Educação e estava muito nervoso, porque como disse ao público, era muito difícil cantar em frente da pessoa que me tinha ensinado a pensar. Também o encontrei no concerto do disco Regresaré e uma vez lhe presenteei uma canção sobre o menino Elián, da qual ele gostou muito».
«Neste momento tenho muita vontade de chorar, às vezes, e em outro não acredito a notícia de sua morte. É muito difícil assumi-la. Como foi difícil assumir a morte de Che Guevara. Mas eu pude ter a Fidel por perto muitas vezes, como homem de carne e osso».
Entretanto, a pintora e gravadora Diana Balboa, companheira na vida de Sara González, assim lembra: «Ele esteve perto de mim, pela primeira vez, quando eu estava alfabetizando, com 15 anos. Naquele momento eu tinha um revólver na cintura e ele estava junto a uma companheira argentina. Ela me pediu o revólver para vê-lo e eu o entreguei. Fidel me repreendeu por meu descuido já que tinha havido mortos por tiros escapados. Fidel examinou o revólver e depois o entregou para mim»
«Depois, quando da Batalha das Ideias, esteve perto de mim muitas vezes e coincidimos em muitos lugares. Os pintores nos incorporamos à Batalha das Ideias e desfrutamos muito de sua companhia, quando trabalhamos em várias províncias do país».
«Ele sentia um enorme carinho por Sara e sempre a procurava quando coincidíamos em atividades. Sara lhe falava, discutia com ele, dava suas opiniões de forma sincera e ele gostava muito disso. Ele sempre foi muito respeitoso conosco, e quando Sara morreu, Fidel me deu as condolências».
FIDEL NO CINEMA CUBANO
«É evidente o interesse de Fidel pelo cinema. Sempre marcado com sua presença e não poucas vezes com sua ação precisa e pontual para ressaltar sua importância», começa dizendo Rebeca Chávez.
A cineasta compartilhou também suas memórias com nosso jornal:
«Tinha consciência do imenso poder do cinema para comunicar ideias, história… e por isso, em meio do turbilhão em que imagino vivia, sempre encontrou tempo para sonhar o Icaic e depois a Escola de San Antonio e também para aceitar ir até Playitas de Cajobabo, com Santiago Álvarez, para relatar a viagem do iate Granma perante uma câmera».
«Foi ali onde o vi de outra maneira: próximo, tenro, falando com toda a pequena equipe de Santiago; estávamos todos girando ao redor dele, organizando o trabalho: Iván Nápoles, Raúl Pérez Ureta, Jerónimo Labrado e ele, que nos perguntava a cada momento se fazia bem as coisas».
«Cheguei até aqui para satisfazê-lo, Santiago, mas não quero que me compare com Martí»… assim começou a longa entrevista que aparece no documentário La guerra necesaria. Mais adiante Santiago improvisou e lhe disse que por ali, por trás da escarpa, vivia Salustiano Leyva, o menino que conheceu José Martí, e Fidel aceitou ir, aventurar-se; e quase sem filme, aconchegados por Juan Almeida no jipe das escoltas, chegamos e o encontro e diálogo de Fidel com Salustiano se converteu em Mi hermano Fidel».
«Anos mais tarde e perante minha incredulidade, em meio da gravação com Frei Betto, ele me diz que íamos nos ver com Fidel (Betto conta muito bem todo este belo episódio). Chegamos a Palácio, Chomi nos esperava, era preciso esperar um pouquinho porque Fidel estava ocupado… Pensei que a salinha onde estávamos era o lugar escolhido para fazer «as tomadas», como diziam as escoltas, quando, por fim, chegou Fidel e me disse: “Você escolheu este lugar? Não foi aqui onde falei com Betto, foi em meu gabinete… Vamos para lá”. E assim recriou para a gravação como nasceu o livro Fidel e a religião. Já de madrugada, enquanto recolhíamos a equipe, ele lia e comentava cabogramas e ao despedir-nos me perguntou:
«Como vai se chamar o documentário?» «Betto diz que não quer que seu nome seja o título» — respondi — «e entre os dois pensamos que uma ideia/frase de Cintio Vitier: Essa invencível esperança, recolhe a essência do que queremos dizer». «Gosto disso», disse Fidel, e se despediu de nós».
«Momentos con Fidel e El día más largo são dois documentários que nascem das gravações realizadas, em diversos momentos, são memória e patrimônio que recolhem o pensamento, as ideias e situações muito difíceis em que Fidel esteve envolvido. Penso em cenas como quando soube que Batista tinha fugido, ou aquelas nas quais lembra os que já não estão, porque morreram na guerra».
«Lembro o intenso drama — visto ao vivo e direto na TV — dos momentos em que tem que assumir que não seriam atingidos os ansiados dez milhões. Vi centenas de pés de filme e horas de gravações que testemunham a vida de Fidel, e sempre está presente um leitmotiv: o contato com todos os problemas e com todas as pessoas, saber tudo, ocupar-se de todos nós, ajudar-nos a compreender a complexidade e a beleza de fazer uma Revolução.
«Há uma carta a Célia, escrita em 1958, em plena guerra, que expressa de maneira clara e singela qual será seu destino verdadeiro. Nesse texto Fidel está comovido perante a destruição da choupana de um camponês (Mario Sariol) destruído com bombas Made in USA, e aí expressa que seu enfrentamento maior será contra os americanos. Daniel Díaz Torres e eu buscamos Mario e voltamos à Serra Maestra com ele, visitamos aquelas paragens e filmamos a história da carta, mas o que sobressaía na lembrança de Mario não era a casa dele destruída, mas que Fidel em meio da guerra pensasse nele».